domingo, 4 de março de 2012

Regresso com um conto!

Olá a todos, os poucos que me leem, decidi regressar, apesar de continuamente quebrar a minha promessa de não desaparecer, e trazer-vos um pequeno conto que me foi proposto fazer para um trabalho. Espero que gostem. (aviso é um pouco trágico)





Felizes para Sempre?
“Felizes para sempre”. Foi com esta expressão que cresci e aprendi a viver!
Nasci num dia de tempestade, em pleno inverno, e aos primeiros raios de luar, sobre o forte esforço da minha mãe, que acabara por perder a vida sem conhecer a filha que criara e acarinhara durante nove meses. Deixou para trás um homem de coração destroçado, e fez com que percebesse, desde cedo, que nada é para sempre.
Cresci numa pequena comunidade pesqueira, com um pai que me abandonava constantemente, deixando-me a cargo de uma vizinha idosa, para embarcar em longas viagens de trabalho, afogando as mágoas por ter perdido o amor da sua vida. D. Alzira, a vizinha, era uma velha rígida, uma mulher à antiga, que me fez ser mulher antes do tempo, devido às suas severas regras e ensinamentos. Aos 12, com a morte da D. Alzira, passei a ficar sozinha durante as viagens do meu pai, forçando-me a saber o que era a independência, quando o que mais precisava era de ser dependente de alguém.
Andei nas escolas locais da comunidade e foi ao ler as páginas dos livros de português que me dei com o estranho significado da expressão Felizes para Sempre, a tão almejada felicidade eterna que todas as grandes personagens parecem sempre conseguir no final dos seus caminhos, depois de inúmeros tumultos e confusões. Essa mesma ideia de felicidade eterna, depois de tanta luta e sofrimento, fez-me reerguer e ter esperança no futuro, e acreditar que a minha sorte iria mudar. Mas a vida voltou a provar-me que eu estava errada, e revelou-me a sua pior face, quando o meu pai sofreu um acidente em alto mar, incapacitando-o de voltar a trabalhar. Já havia perdido a sua mulher, e agora nem trabalhar podia! Talvez por isso tenha feito da bebida a sua companheira de vida, esse líquido milagroso que lhe apagou a mágoa, mas lhe toldou a razão e o temperamento. Nunca encostou uma mão em mim, apesar de inúmeras tentativas com esse intuito.
Aos 18 anos, a vida não era nada daquilo que alguma vez sonhara, mas a lei ofereceu-me o melhor presente que recebi até hoje: o de ser legalmente independente, de poder começar uma vida nova. Peguei em todo o dinheiro que tinha guardado ao longo dos anos, disse adeus à minha terra e comprei uma passagem só de ida para um qualquer lugar longe de tudo o que conhecera.
Agora olho para a janela do comboio e deixo de ver a terra de sofrimento que habitei durante tantos anos, e a única coisa que levo na alma é a esperança de que a vida me possa mostrar, daqui para a frente, o seu melhor lado, mesmo que nem sempre feliz, mesmo que nem sempre para sempre… 

CR